Durante anos questionei-me sobre o peso da sorte nas vitórias. Tinha um daqueles colegas que parecia ter nascido com o rabo virado para Lua: sempre que um cliente estava a elogiar um projecto seu, o chefe entrava. Quando chegava o início do ano era sempre aumentado – e nem sequer tinha de dar graxa para isso. Se fazia asneira, algum alinhamento cósmico resolvia o problema antes sequer de causar problemas. E quando parecia que já nada mais de bom lhe podia acontecer, o chefe decidiu reformar-se e recomendá-lo para substituí-lo no cargo!
OK, há que reconhecer-lhe mérito – ele era competente e dedicado –, mas outros havia que mereciam tanto quanto ele e nunca conseguiram sequer uma palmadinha nas costas.
Depois de algum tempo a observá-lo, percebi que a sua sorte não vinha de meros acasos. A atitude dele era determinante nas suas conquistas, na forma como os seus erros pareciam coisa irrelevante e as suas vitórias conquistas hercúleas. E, na verdade, ele nem se esforçava muito. Simplesmente, tinha uma maneira de ser que realmente o distinguia dos demais.
Para esse meu antigo colega, ganhar era algo natural. Mas se não tem o toque de Midas, pode pelo menos aprender alquimia. Que é como quem diz: talvez para si vencer não seja fácil e natural, mas nada o impede de adoptar uma atitude capaz de tornar mais fácil atingir os seus objectivos. Há cinco traços que deve esforçar-se por incluir na sua personalidade.
1. Bom humor. Usar um sorriso na cara sempre que possível pode fazer maravilhas. [E “possível” significa fazer um esforço por se mostrar bem disposto mesmo quando o seu vizinho de cima passou a noite a praticar guitarra eléctrica ou acaba de ser insultado por uma dezena de automobilistas incapazes de perceber que a bateria do seu carro não estava a colaborar.] Se pensar bem, a maioria das razões que o fazem responder com grunhidos aos bons dias que lhe dão nem merecem o trabalho de se incomodar...
Sabia que o humor é contagioso? Pois é. Então, se se apresentar com um sorriso é muito natural que lhe respondam com igual disposição – tal como fazer cara feia muito provavelmente só lhe vai trazer respostas tortas. Por outro lado, andar bem disposto aproxima as pessoas com as melhores intenções – receberá ajudas voluntárias, bons conselhos e apoio. Estes factores são muito importantes para o seu sucesso. Como acha que conseguiria chegar mais longe numa maratona: com uma claque a apoiá-lo, a fornecer-lhe água e toalhas sempre que precisasse; ou sozinho – ou ainda pior, com o público a vaiá-lo e a atirar-lhe tomates?
2. Disponibilidade para ouvir e aprender. Talvez para si receber críticas seja aterrorizador. Pois bem, está na hora de mudar de ideias. Ser criticado não significa ser crucificado. Antes pode ser a oportunidade de garantir armas essenciais: saber o que está a fazer bem e corrigir o que corre pior. O feedback no escritório é essencial para ajustar o seu rumo e estratégia, impedi-lo de repetir erros e melhorar o que já faz bem. Mesmo que não lho imponham, procure saber a opinião dos seus colegas sobre o trabalho que vai desenvolvendo.
3. Foco. O que acontece na rua, fica na rua. Não deixe que a sua vida pessoal interfira com a sua concentração. Lembra-se do que aconteceu ao megacampeão de golfe Tiger Woods quando os seus casos escaldantes foram descobertos? Pois é. Não é exagero: levar questões pessoais para o escritório pode dar cabo daquilo que anda a construir tão arduamente na sua carreira. Talvez não tão dramaticamente – será difícil ver as suas asneiras na capa de todas as revistas e jornais do mundo – mas com efeitos igualmente devastadores. Sempre que entrar no escritório, mantenha-se focado naquilo que importa: o trabalho. Para se preocupar com o resto, terá todo o tempo do mundo.
4. Independência. OK, é bom receber feedback sobre aquilo que faz. Mas não leve demasiado a sério tudo quanto lhe dizem. Pensar pela sua cabeça é essencial, mesmo para saber pesar e analisar críticas e reacções ao seu trabalho. Manter a sua personalidade, em vez de se abandonar às ondas, dobrando para o lado que sopra o vento, é uma característica indispensável a um bom profissional (a uma pessoa decente, na verdade). Ter os olhos abertos e os ouvidos atentos é bom, mas nunca deixe os seus créditos em mãos alheias. Ganhe ou perca, é importante que seja você próprio o responsável pelas suas acções. Especialmente quando estão em causa falhanços. Toda a gente faz asneira, mas ao menos que as suas sejam realmente suas. Afinal, se errar, pouco consolo será saber que o fez apenas porque o aconselharam mal.
5. Sociabilidade. Se (quando) conseguir cumprir os quatro pontos acima, este será canja para si. Com uma personalidade moldada de forma a torná-lo mais sociável, mais simpático e mais querido para aqueles que o rodeiam, não será nada difícil fazer amigos e conhecer novas pessoas, alargando o seu círculo e as suas redes de contactos. E, já se sabe, quanto mais geometricamente alargada for a sua rede, mais possibilidades terá de se dar com pessoas capazes de mudar o seu futuro. Há sempre alguém que conhece alguém que conhece alguém que pode recomendá-lo para o seu lugar de sonho. Quanto mais recomendações tiver – e mais sinceramente o considerarem ideal para o cargo – mais fácil será conseguir os seus objectivos. Mas não se esqueça que também aí terá de fazer alguma coisa por si: aparecer. Se o convidam para uma festa, vá. Se querem a sua presença numa palestra, não se negue. Se desejam que se encontre com um grupo de executivos, aceda. Não serve de nada conhecer muita gente se depois não se deixa ver.
Estes cinco passos podem não ser fáceis de dar – se melhorar a sua maneira de ser fosse fácil, todos o faríamos. Afinal, a sorte dá mesmo trabalho... Mas um esforço no sentido certo já pode produzir alguns efeitos e fazer melhorar a sua situação profissional. Boa sorte!
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