O bispo da Guarda, Manuel Felício, considerou hoje que os
bancos e os ricos é que «têm que pagar a crise» e sugeriu taxas para automóveis
topo de gama e casas de luxo. «Os que têm [dinheiro] é que têm que pagar a
crise. Os bancos têm que pagar a crise. Os balúrdios que se entregou para
sustentar bancos que já deviam estar enterrados há muito tempo. Eu já disse que
lhes fazia o funeral de graça. Estamos agora a sofrer os efeitos», disse hoje
Manuel Felício à agência Lusa.
O prelado diocesano, que falava à margem da
sessão de abertura das “IV Jornadas Saber Envelhecer”, que decorrem hoje e
sábado na Guarda por iniciativa da Casa de Saúde Bento Menni, questionou:
«Porque é que não cortam nessas realidades?». Em vez de cortes nos rendimentos
dos trabalhadores e nas pensões de sobrevivência, o bispo sugere a aplicação de
taxas para automóveis topo de gama e casas de luxo. «Na vez de cortarem estes,
que ganham menos de 600 euros, porque não cortam, porque não põem uma taxa aos
automóveis topo de gama que andam por aí a rodar, às casas que custam mais de um
milhão de euros e que se compram e que se têm?», defendeu.
Manuel Felício
questionou por que razão «não se coloca nesses [nos ricos] a fasquia do pagar a
crise?». «É que, é mais fácil cortar nos que não têm voz, nem capacidade de se
defender», justificou.
Se os cortes nas pensões de sobrevivência forem
efectuados, o responsável fala em consequências para as pessoas idosas «que não
têm o essencial» e para «deficientes que não têm possibilidade de continuar a
viver com a sua condição de vida». Também alerta que haverá instituições de
apoio aos idosos «que deixam de funcionar», o que «é um prejuízo também para a
economia social». «Todos esses são problemas em cadeia, que quem nos governa não
vê ou não quer ver», apontou o bispo da Guarda.
Quando questionado pela Lusa
sobre o alegado encerramento de repartições de finanças em todo o país, disse
que não se pronunciava por desconhecer o assunto em profundidade, mas defendeu o
princípio geral de que as pessoas não devem ser abandonadas. «Nós não devemos
abandonar as pessoas e, quando lhe retiramos serviços, de alguma maneira
abandonamo-las, a não ser que encontremos outros mediadores»,
observou.
Denunciou que, actualmente, «as pessoas são tratadas como números
e, predominantemente, como número de contribuinte», o que considerou «uma grande
injustiça». «As pessoas não são números. As pessoas são valores, são bens
essenciais na nossa praça e na nossa sociedade. Se as tratamos como números e,
predominantemente, como números de contribuinte, está tudo estragado», alertou
Manuel Felício.
in http://www.terrasdabeira.com/breakingnews/news.asp?Id=2721
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