A hotelaria da Serra da Estrela e concelhos em redor teme que as portagens tenham um «efeito devastador» na ocupação hoteleira deste verão.
A época alta é o inverno, graças à neve, mas os hotéis oferecem programas de turismo de natureza, gastronomia e visitas ao património histórico e cultural para tentar conquistar clientes na época baixa de verão. Só que, este ano, pode não haver programa que chegue para fazer face à redução de poder de compra e à cobrança de portagens nas auto-estradas (A23 e A25) que servem a região. Os clientes da Grande Lisboa são responsáveis por 40 por cento das reservas no grupo Natura, que tem cinco hotéis na região, na Covilhã e Guarda, e as portagens «estão a travar as reservas», refere Luís Veiga, diretor-geral do grupo. Os números ainda estão a ser apurados, mas as expetativas para o verão «não são nada boas: as portagens podem ter um efeito devastador». A Espanha é outro mercado importante, mas nos primeiros quatro meses do ano a ocupação por espanhóis «caiu para cerca de metade em relação a 2011», acrescenta. José Luís Moreira, diretor-geral da Turistrela, com dois hotéis em plena montanha, alerta para as contas: uma viagem de automóvel de ida e volta, entre a Covilhã e Lisboa «fica em cerca de 150 euros. É demais». Aquele responsável acredita que «não há crise», mas sim «uma mudança política, social e económica que nos vai fazer adotar novos hábitos», contexto no qual «as portagens estão a prejudicar». Nuno Pimenta, diretor-executivo da empresa municipal Fundão Turismo, teme o efeito «sobretudo ao nível das ocupações de curta duração e fim de semana». Ainda assim, destaca «a resiliência» do turismo de natureza e rural na Serra da Gardunha, que pensa estar a assumir-se «como uma âncora na região». Não fossem as portagens e os diretores dos hotéis da região acreditam que teriam argumentos para atrair cada vez mais turistas. A Fundão Turismo aposta no programa de animação de eventos, como a Festa da Cereja, Semana Cultural Terras do Xisto ou o Festival Chocalhos. Entre os 1000 e 2000 metros de altitude, a Turistrela promove pacotes de reuniões em altitude para executivos, lado a lado com um passaporte de experiências na montanha que inclui passeios pedestres e de bicicleta. Para além do turismo de natureza na Serra da Estrela, o grupo Natura destaca as atividades ligadas à cereja do Fundão «que vai continuar a ser colhida até ao mês de julho», o núcleo museológico de Belmonte e o turismo religioso e histórico na Guarda. No entanto, há também queixas sobre a falta de divulgação da região nas campanhas oficiais de promoção do turismo. Luís Veiga já se queixou «junto do Turismo de Portugal e já se discutiu o assunto na Associação de Hotelaria de Portugal. Há campanhas em Espanha que só se oferecem dormidas para o Algarve e o resto do país não existe». Ao nível da promoção interna, «há campanhas na RTP que esquecem a Serra da Estrela» e a divulgação ao nível do Turismo do Centro «só fala atualmente das Aldeias do Xisto, que é um produto muito bom, mas isto parece-nos muito curto». José Luís Moreira acredita que a Serra da Estrela «tem muito para oferecer ao nível do turismo da natureza, mas ainda falta caminhar muito para Portugal promover essa realidade».
Lusa in Guarda.pt
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